8 de out. de 2025
Remoção/Substituição de Lentes: quando trocar preservando estrutura dental
Lentes de porcelana bem planejadas duram muitos anos. Ainda assim, pode haver situações em que trocar as facetas é a decisão mais segura — seja por infiltração, descolamento, bordas manchadas, fratura ou simplesmente porque a cor e o desenho já não acompanham o sorriso atual. O objetivo deste guia é explicar quando indicar a substituição e como conduzir o processo de forma conservadora, priorizando a preservação do dente e uma nova entrega estética previsível.Quando considerar a troca: sinais clínicos e estéticos
Os sinais mais comuns aparecem nas margens: escurecimento ou alteração de cor junto à gengiva, sensação de “degrau” ao passar o fio ou dificuldade de higienização. Microinfiltrações também podem se manifestar por sensibilidade pontual ou acúmulo de pigmento nas bordas. Em outros casos, a lente está integra, mas a tonalidade ficou fora do contexto do sorriso (após clareamentos dos dentes vizinhos, por exemplo) ou o paciente deseja refinamento de forma e textura. Quando há fratura ou descolamento, avaliamos se é possível reparar; se a estrutura dental está preservada e a adesão original foi ao esmalte, a substituição por porcelana tende a apresentar excelente prognóstico.
Avaliação para troca de lentes: o que garante previsibilidade
A consulta começa com fotografia clínica padronizada, análise de oclusão e scanner intraoral. Esse conjunto permite enxergar margens, espessuras e contatos, e ajuda a decidir se há indicação de trocar facetas ou se um polimento/ajuste já resolve. Em estética, o próximo passo é o planejamento adesivo: definir a nova cor (matiz, croma e valor), a translucidez desejada e o desenho que melhor se integra ao rosto e à linha do sorriso. Quando necessário, fazemos mockup para validar o contorno antes de qualquer intervenção.
Como remover preservando estrutura dental
A remoção de lentes é guiada por marcadores visuais e táteis que diferenciam cerâmica de esmalte/dentina. Trabalhamos sob magnificação, com pontas finas e guia de espessura derivada do escaneamento para remover apenas a cerâmica.
Quando indicado, utilizamos o laser Er:YAG para auxiliar na desagregação/seletiva da cimentação resinosa e no alívio de tensões adesivas, o que reduz a necessidade de desgaste mecânico e ajuda a preservar ainda mais o esmalte. Todo o procedimento é feito com spray de água e controle térmico contínuo para proteger o dente e os tecidos.
Se a lente foi cimentada majoritariamente sobre esmalte, a retirada tende a ser rápida e conservadora; em áreas com dentina, o trabalho é mais criterioso, porém igualmente seguro com isolamento e referências de espessura.

Seleção da nova cerâmica: cor, translucidez e laboratório
Trocar não é “repetir o antigo”: é oportunidade de aperfeiçoar cor, valor e textura. Avaliamos substrato, espessuras e necessidades de máscara para escolher entre dissilicato de lítio (e.max®) de diferentes opacidades, ou associações cerâmica-cerâmica quando a base pede neutralização. Fotografia polarizada, guias digitais e comunicação precisa com o laboratório parceiro garantem que o resultado final não fique “opaco” nem “cinza”, e que o brilho e a microtextura imitem esmalte natural.

Protocolo adesivo e prova: o que muda na substituição
Com o dente conservado, a adesão é favorecida. Fazemos prova seca e try-in (pasta de prova) para confirmar cor/translucidez em diferentes iluminações. Em seguida, seguimos o protocolo adesivo do sistema cerâmico escolhido (condicionamento, silanização e cimento resinoso adequado), controle de umidade e isolamento. O ajuste oclusal é refeito de forma meticulosa, priorizando guias funcionais que protegem as novas lentes.
Polimento final e manutenção
Após cimentação, o polimento final devolve brilho, suaviza microtransições e reduz retenção de pigmentos. Orientamos higiene com fio/escova interdental e revisões periódicas para polimento, controle de biofilme e checagem oclusal. Em pacientes com bruxismo, a placa de proteção é fundamental para longevidade.
Expectativas e tempo de tratamento
Normalmente, a sequência envolve: avaliação + planejamento e cor, remoção conservadora, prova/try-in e cimentação. Em muitos casos, o processo é concluído em poucas consultas, especialmente quando o dente mantém esmalte suficiente e o laboratório já tem mapa digital do sorriso.
Conclusão
A substituição de lentes não precisa ser sinônimo de desgaste extra. Com diagnóstico correto, remoção conservadora guiada e planejamento adesivo cuidadoso, é possível preservar estrutura dental, resolver infiltrações/descolamentos e ainda evoluir cor, forma e textura para um resultado mais natural. O sucesso está em respeitar o substrato, comunicar-se bem com o laboratório e manter manutenção regular — três pilares que protegem o investimento estético a longo prazo.
referências bibliográficas
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